Milei pintou o quadro catastrófico da Argentina e a herança maldita para anunciar ajuste e choque na economia
Presidente rompe parâmetros em discurso de posse e prepara argentinos para tempos difíceis. Javier Milei toma posse como presidente da Argentina
Matias Baglietto/Reuters
Empossado como presidente argentino, ao pé da escadaria do Congresso, de frente para seus simpatizantes e de costas para os políticos que ofendeu durante a campanha, Javier Milei traçou um retrato catastrófico do país para voltar sempre ao mesmo ponto do que ele defende para a economia: ajuste e choque, sem gradualismo.
Com a descrição da herança maldita e do país quebrado em todos os aspectos, o ultraliberal Milei prenunciou tempos dificílimos, preparando os argentinos para o que está por vir a partir desta segunda-feira (11). E não há dinheiro, repetiu com ênfase.
Especulava-se que ele anunciaria no discurso de posse um pacote de medidas, mas o novo presidente preferiu pintar um quadro de fracassos dos governos nos últimos 100 anos.
Ele advertiu que não caberá ao Banco Central a emissão de moeda e que o ajuste fiscal incidirá sobre o Estado e não sobre o setor privado. “Não há solução que evite atacar o déficit fiscal. Dos 15 pontos de déficit, 5 correspondem ao Tesouro Nacional. A solução implica um ajuste fiscal no setor fiscal público, que recairá sobre o Estado e não sobre o setor privado.”
Seu primeiro discurso como presidente rompeu definitivamente com os parâmetros de outras posses. Nunca se falou tanto na necessidade de ajustes fiscais, em cortes de gastos e prognósticos difíceis.
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A tão propagada recuperação ficou em segundo plano. É como se o panorama dramático traçado por ele fosse um recado para quando começarem a fluir as cobranças e frustrações da população: ninguém poderá dizer que ele não avisou que o caminho seria duro.
“Nenhum governo recebeu uma herança pior do que a que estamos recebendo”, justificou.
Enquanto Milei falava para o público e seus convidados, dentro do plenário Congresso, restaram apenas deputados e senadores da frágil e pequena bancada de seu partido A Liberdade Avança.
O presidente descreveu a Argentina como um banho de sangue em termos de segurança. “Os criminosos andam livres, enquanto os bons argentinos estão presos atrás das grades”. Foi interrompido pelos gritos de “polícia, polícia!”, emanado de seus simpatizantes.
Em 35 minutos, Milei desfiou um longo rosário de problemas — o colapso do sistema de saúde, da educação, os níveis de pobreza, a hiperinflação, os salários baixos e estancados.
“Não vai ser fácil, 100 anos de fracassos não podem ser desfeitos em um dia. Mas um dia começa e hoje é esse dia.” A nova era decretada na Argentina por Javier Milei inclui também um novo significado para a palavra liberdade, que o novo presidente usa com tanta ênfase e frequência.
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