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Defesa de Lula por eleições livres na Venezuela não deve influenciar Maduro, avaliam especialistas

Defesa de Lula por eleições livres na Venezuela não deve influenciar Maduro, avaliam especialistas

 Presidente brasileiro se reunirá com venezuelano nesta sexta (1º) em São Vicente e Granadinas. Embora Maduro tenha anunciado acordo por eleições, diplomatas veem ‘sinais ruins’ em gestos recentes. Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se posicione em favor de eleições livres na Venezuela, especialistas em relações internacionais e diplomatas acreditam que Nicolás Maduro não deve ser influenciado.
Esses mesmos especialistas avaliam o posicionamento de Lula como “positivo”, mas ponderam que o atual presidente da Venezuela tem emitido “sinais ruins”.
Lula e Maduro têm uma reunião marcada para esta sexta-feira (1º) em São Vicente e Granadinas, onde participam da Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).
Lula tem reunião com presidente da Guiana sobre disputas com Venezuela
A expectativa é que entre os temas abordados pelos dois políticos estejam as eleições venezuelanas — marcadas para o segundo semestre deste ano.
Desde que tomou posse, no ano passado, o presidente brasileiro tem tentado se aproximar de Maduro.
No ano passado, por exemplo, Lula recebeu o venezuelano no Palácio do Planalto. Na ocasião, Lula chegou a ser criticado porque, ao se dirigir a Maduro, disse que o presidente do país vizinho era alvo de “narrativas” sobre a democracia local e que, diante disso, precisava criar sua própria narrativa.
Nas últimas semanas, entretanto, o governo do país expulsou funcionários do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ONU); a ativista Rocío San Miguel foi presa; e o Supremo Tribunal de Justiça, alinhado a Maduro, inabilitou María Corina Machado, candidata da oposição à presidência.
“Maduro não tem nenhum compromisso com a democracia. Zero compromisso. E não acredito que o presidente Lula tenha capacidade de influenciá-lo”, afirmou o professor Pio Penna Filho, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB).
“É uma coisa positiva [a discussão proposta por Lula] pelo fato de estar colocando o tema para discussão, colocando o tema na agenda. Agora, isso vai sair da retórica? Eu não acredito. Vai ficar no plano do discurso político. Já é algo positivo, mas, medidas concretas, não acredito”, completou.
Na condição de anonimato, um ex-chanceler brasileiro afirmou que o presidente Lula age “corretamente” ao defender as eleições no país, mas que não é possível prever qual será o comportamento de Maduro.
“O presidente Lula sempre teve essa postura a favor da democracia. Ele age corretamente. Mas é difícil entender o que pensa o Maduro”, declarou.
‘Sinais ruins’
Em uma rede social, Nicolás Maduro anunciou nesta quarta-feira (28) ter chegado a um acordo para que ocorra eleições neste ano na Venezuela.
“Neste 2024, na Venezuela, haverá eleições presidenciais. Depois de quase um mês, a Assembleia Nacional realizou um trabalho árduo e exemplar, emoldurado pelo diálogo e pelo entendimento. Hoje temos um acordo amplo e inclusivo, que incorporou todos os setores e nos garantirá que na Venezuela haja eleições livres, democráticas e inclusivas”, escreveu.
Para um integrante da diplomacia brasileira, porém, apesar do anúncio, os sinais dados por Maduro ao longo dos últimos meses foram “ruins”, demonstrando que são “pequenas” as chances de o presidente venezuelano seguir os conselhos de Lula.
“São pequenas [as chances de Lula influenciar Maduro]. Os sinais são muito ruins. Bloquearam a candidatura de oponentes, sinais de que [a votação] não será normal. Vamos entender ainda o que é este último movimento, mas, como disse, os sinais são ruins”, afirmou esse diplomata.
Para integrantes do Itamaraty, Maduro vem “esticando a corda” e agindo na “contramão” do Acordo de Barbados, que, entre outros pontos, prevê eleições no país neste ano e libertação de opositores presos.
Defesa dos valores democráticos
Para o conselheiro emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Marcos Azambuja, o Brasil não deve elogiar ou criticar candidatos, mas, sim, reforçar a defesa dos valores democráticos, citando eleições livres e fiscalizadas por organismos internacionais e pela imprensa, por exemplo.
Ex-embaixador do Brasil em países como França e Argentina, Azambuja avalia que o governo Lula deve respeitar a soberania interna, se colocando como mediador, não como protagonista.
“Você não pode se deixar seduzir pela iniciativa, buscando visibilidade maior que a necessária. O mediador que se manifesta sobre questão de outro país deve ter cuidado extremo para não parecer interventor. Portanto, sobriedade, modéstia e quase que invisibilidade. Tem que ter cuidado para não aparecer como protagonista, apenas estar à disposição dos que estão jogando o jogo”, avaliou.
Azambuja acrescenta que, nos encontros com Maduro, Lula precisa ter “disciplina na palavra” e “cuidado com adjetivos”
“[No passado] o Brasil se envolveu demais com a política interna venezuelana contra o Maduro, o que foi um erro. Não temos que nos envolver demais agora a favor do Maduro. O que temos de fazer é jogar o jogo, defendendo regras claras”, prosseguiu.
Para Azambuja, qualquer iniciativa a favor da democracia é positiva, porém, Lula precisa demonstrar “sobriedade” ao longo dos próximos meses e ficar “alheio” ao que chamou de “jogo político interno”, isto é, sem se posicionar a favor de determinado candidato.g1 > Mundo Read More  

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