Análise: Brasil manda recados em Teahupoo histórico
Italo, no top 5, entra na briga por título, e desempenho de Medina e Tati mostra que país chegará para brigar pelo ouro nas Olimpíadas Como é bom voltar a ser dominante, dar as cartas e mostrar toda a capacidade do surfe brasileiro num dos palcos mais emblemáticos do Circuito Mundial. A etapa de Teahupoo, que terminou com a espetacular vitória de Italo Ferreira, manda recados claros para o mundo das pranchas: a Brazilian Storm não virou brisa e somos fortes candidatos ao ouro nos Jogos Olímpicos, tanto no masculino quanto no feminino – e voltamos para a briga pelo título mundial.
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Italo deu um salto no ranking, saindo de 16º para quinto, com 22.715 pontos, encostando em Ethan Ewing, quarto, com 23.930. Gabriel Medina ainda não aparece no top 10, mas também subiu 19º para 12º, com 18.150. Tem chance ainda, e vou fazer aquelas continhas no meu próximo texto.
Italo Ferreira ergue troféu após vitória em Teahupoo
Ed Sloane/World Surf League
Hoje temos de falar do épico campeonato de Teahupoo, com ondas espetaculares, grandes, clássico. Italo mostrou toda sua técnica e coragem para tubos pesados e voltou a vencer no Circuito, com uma bateria excelente na final contra John John Florence, outro monstro em Teahupoo. Uma pena o Brabo ter feito uma temporada fraca ano passado e ficado fora da equipe olímpica.
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Por outro lado, os dois de nosso time de seis para os Jogos que estavam no Taiti, Tatiana Weston-Weeb e Medina, devem ter deixado os adversários preocupados. Tati entrou para a história com o primeiro dez do feminino em Teahupoo, na semifinal contra a taitiana Vanihe Fierro, numa bateria que deveria ter sido a final. A local conseguiu a virada, mas a brasileira avisou que vai brigar por medalha nas Olimpíadas. Provavelmente com a própria Vanihe, que compete pela França.
Tatiana Weston-Webb em ação em Teahupoo
Matt Dunbar/World Surf League
E Medina? O surfista mais consistente de Teahupoo mostrou mais uma vez que se sente em casa neste pico mágico. Foi o melhor surfista da competição, com a única nota 10 do campeonato, numa bateria que marcou 19,83 pontos, mas todos falam que deveria ter sido 20. A nota 9,83, para alguns, foi uma onda até melhor do que a do 10, mas os juízes estavam exigentes para soltar o 10. O marroquino Ramzi Boukhiam, que chegou à semi e mostrou que vai dar trabalho nos Jogos, também teve 9,80 na bateria que eliminou Kelly Slater e que poderia ter sido 10.
Num circuito em que tivemos poucos dias de boas ondas, o brasileiro provou em Teahupoo que a fama de se dar bem em mar ruim é coisa do passado remoto. Bastou uma etapa com ondas de qualidade para termos um campeão, um terceiro colocado e um quinto, Yago Dora, que perdeu justamente para o Italo nas quartas. A onda mais temida do circuito é nossa. O Brasil esteve presente nas últimas seis finais em Teahupoo, com três vitórias, de três surfistas diferentes. Gabriel Medina venceu em 2018 e foi finalista em 2017, 2019 e 2023, Miguel Pupo ganhou em 2022 e, agora, Italo se consagrou.
Gabriel Medina quartas WSL Teahupoo, no Taiti
Reuters
Vamos às atuações:
Italo Ferreira (campeão) – Desde a primeira fase, Italo deixou claro que não estaria de brincadeira. No menor dia da competição, com ondas de 1,5 a 2 metros, o campeão olímpico tinha uma bateria dura pela frente, contra o local Mihimana Braye e o então líder do ranking Griffin Colapinto, que mostrara nos treinos que estava confortável em Teahupoo. Italo, porém, foi dominante e não deu chances aos adversários, vencendo com 13,30, contra 11,66 de taitiano e 11,47 do americano.
Nas oitavas, outra bateria encardida, contra mais um representante do Ciclone de São Clemente, Cole Houshmand. O Brabo não deu chances para o californiano e venceu por 16,60 a 15,77, marcando um nove. Nas quartas, infelizmente um duelo brasileiro, contra Yago. Os dois surfaram muito, mas o campeão olímpico estava inspirado, achou um diamante quase perfeito que lhe valeu 9,83 pontos. Com um 8, alcançou 17,83, contra 15,87 de Yago, que chegou a fazer 9,0.
Na semi, o adversário era o embalado Ramzi, que acabara de eliminar o sempre perigoso Kelly Slater em Teahupoo, com a tal onda que citei acima. Não foi o melhor momento do mar, mas Italo foi mais eficiente e venceu por 13,27 a 8,50.
Italo Ferreira é campeão em Teahupoo, no Taiti WSL
WSL
A final contra John John começou com uma troca de onda que praticamente definiu a bateria. Enquanto Italo marcou 8,93, o havaiano caiu na saída do tubo e ficou atrás no placar. Italo fez logo um 8,77, enquanto John John passou a esperar a boa. Diante das notas anteriores, as ondas do Italo pareceram um pouco subavaliadas. A primeira boa onda de John John valeu 7,83 e a régua parecia ajustada. No final, como se fosse para dar mais emoção, o havaiano tirou um 9,33, quando precisava se 9,87 para a virada, numa onda em que não o vi tão profundo no tubo. De qualquer forma, foi grande, com drop difícil e uma baforada tão grande que escondeu o surfista, parecendo mais profundo do que realmente fora. Faltam alguns minutos, e John John ainda teve a chance da virada, mas novamente não completou e Italo, enfim, voltou a vencer no Tour, o que não acontecia desde 2021: 17,70 a 17,16.
Gabriel Medina (terceiro) – A conexão do tricampeão mundial com Teahupoo é uma coisa de outro mundo. Na primeira fase, o mar estava inconstante e difícil, mas a pontuação já mostra como o brasileiro conhece aquelas ondas. Ele marcou 11,90, enquanto Imaikalani De Vault fez 6,80 e Jack Marshall apenas 2,20.
Nas oitavas ele reencontrou Marshall e deu seu recital. Pegou duas ondas perfeitas, merecedoras do 10, mas numa delas os juízes conseguiram dar 9,83. Marshall até surfou bem, mesmo assim a diferença foi de mais de quatro pontos: 19,83 a 15,23. Na fase seguinte o duelo foi contra o australiano Ryan Callinan, e Medina passou com mais duas notas acima de nove. 9,23 a 9,73, somando 18,96, contra 15,94 de Callinan.
Veja as melhores ondas de Gabriel Medina em Teahupoo, no Taiti
Na semifinal contra John John, o maior pecado de todo o campeonato. Numa troca de notas inicial que também praticamente definiu o confronto, como a final, Medina pegou uma bomba, ficou muito tempo muito profundo dentro do tubo e quando estava saindo, já para comemorar, o foamball pegou a rabeta da prancha do brasileiro e o derrubou. Não seria 10, seria 20. Enquanto isso, John John tirou 9,77. Medina ainda se machucou nos corais. No fim, o havaiano levou por 18,00 a 14,00.
Tatiana Weston-Webb – A brasileira não chegou à decisão, mas fez final antecipada com Vahine Fierro na semi. A competição feminina foi histórica, com as mulheres enfrentando pela primeira vez um mar pesado em Teahupoo. Com a previsão de ficar ainda maior, tudo foi resolvido num único dia. Tati entrou na primeira bateria do campeonato, com o mar acordando, e conseguiu logo um 7,67 que lhe garantiu a vitória, com 10,34, contra 8,16 de Brissa Hennessy e 1,53 de Gabriela Bryan. Nas quartas, um clássico contra Tyler Wrigth, mas Tati começou a mostrar por que é uma das mais fortes em Teahupoo marcando 14,83 a 13,76, com direito a uma nota 8,50.
Tatiana Weston-Webb vibra com a nota 10.00 em Teahupoo
Matt Dunbar/World Surf League
A semifinal foi um show à parte. Daquelas baterias que entram para a história do surfe, seja masculino ou feminino. Vahine é o nome mais forte em Teahupoo, ninguém discute. A local, que já vinha impressionando desde o começo, marcou 8,07 e 8,0, deixando a brasileira precisando de 10 para virar. Tati foi lá e, numa das ondas mais impressionantes da história do surfe feminino de competição, tirou o 10. Porém, Vahine teve ainda a chance pegar mais uma bomba e virou com um 9,63. Bateria de cair o queixo.
Yago Dora (quinto) – Pegou uma bateria complicada na primeira fase, mas até tuitei que, mesmo assim, eu esperava mais dele. Ficou em último, com 7,80, atrás de John John, 13,77 e Rio Waida, 9,60. Na repescagem, pegou o australiano Jack Robinson, campeão de Teahupoo ano passado e um dos favoritos. Não deu chances ao gelado também treinado por Leandro Dora, e venceu com consistentes 16,57 a 15,90. Nas oitavas despachou Jordy Smith com tranquilidade, por 14,50 a 8,17. Nas quartas, pegou o Italo na bateria que já descrevi acima.
Yago Dora em ação em Teahupoo, no Mundial de Surfe
Ed Sloane/World Surf League
Estamos de volta!!
Boas Ondas! geRead More