Após superar variedade arábica pela 2ª vez, clima seco e fluxo logístico fazem preço do café robusta subir 100%, aponta USP
Pesquisadores do Cepea afirmam que início da safra brasileira 2025/2026 é preocupante na cafeicultura, devido ao cenário de tempo seco e quente. Café arábica
Ari Melo
Após superar a variedade arábica pela primeira vez em sete anos e pela segunda vez na história, o preço do café robusta teve alta de 100% em menos de um ano. O clima seco e quente e problemas no fluxo de mercadorias no mundo são apontados como causas para a alta.
📲Participe do canal do g1 Piracicaba no WhatsApp
Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (18) pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), campus da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba (SP).
Safra 2025/2026 preocupa
Pesquisadores do Cepea, afirmam que o início da safra brasileira 2025/2026 é preocupante nas áreas de ambas as variedades, devido ao cenário climático de tempo seco e sucessivas ondas que calor.
Alta de 100% do café robusta
De acordo com o Indicador Cepea/Esalq, a saca de 60kg da variedade fechou em R$ 1.500 na última semana, o que representa uma alta de 100% frente ao valor de R$ 740 da saca registrada no último trimestre de 2023.
Segundo pesquisadores do Cepea, um dos motivos para a alta de preços do café robusta é o clima adverso, que além de prejudicar a safra brasileira, também deve influenciar negativamente a produção no Vietnã, país considerado o maior produtor mundial da variedade.
“Além disso, foram verificados problemas com o fluxo de mercadorias através do globo (que encarece o frete e atrapalha os envios da Ásia para a Europa)”, aponta o centro de estudos da USP.
Café robusta
Globo Rural/Tv Globo
1ª vez em sete anos
Pela primeira vez em mais de sete anos, e pela segunda vez na história dos levantamentos da Esalq-USP, o preço do café robusta ficou acima da variedade arábica, no comparativo dos indicadores. Entre os motivos da mudança está o clima quente e com poucas chuvas enfrentado por Brasil e Vietnã, principais produtores das variedades.
No Brasil, segundo especialista do setor, entrevistado pelo g1, nesta segunda-feira (2), dois terços da produção é de café arábico e um terço é de café robusta. – 📝Leia mais na reportagem, abaixo.
Recorde histórico
De acordo com o Indicador Cepea/Esalq, o café robusta fechou o último dia 30 a um valor de R$ 1.483,95 na saca de 60 kg, o que representa um avanço de 16,73% em agosto e um recorde histórico da série de levantamentos iniciada pelo centro de estudos em 2021.
O valor da saca do robusta, pelo Indicador do Café Arábica Cepea – Esalq, é de R$ 35,71 a mais do que café arábica, comercializado na mesma data a R$ 1.448,24 saca com alta de 2,3% no acumulado do mês.
Segundo o Cepea, a única vez que a variedade robusta superou a arábica foi há mais de sete anos, entre outubro de 2016 e janeiro de 2017.
Entretanto, naquele período, a maior diferença de preços entre as variedades, registrada no dia 3 de janeiro de 2017, foi de R$ 20. “Isso significa que o robusta nunca esteve tão mais caro que o arábica”, aponta o Cepea.
Produção de café enfrenta problemas por conta seca
Reprodução/EPTV
Indicadores
O Indicador do Café Arábica Cepea/Esalq refere-se a sacas de 60 quilos líquido, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, valor descontado o Prazo de Pagamento pela taxa CDI, posto na cidade de São Paulo.
Já o Indicador do Café Robusta Cepea/Esalq refere-se a sacas de 60 quilos líquido, à vista, tipo 6, peneira 13 acima, com 86 defeitos, valor descontado o Prazo de Pagamento pela taxa CDI, a retirar na origem, no Espírito Santo.
Consumo no mercado interno
De acordo com o pesquisador Renato Garcia Ribeiro, responsável pela área de café no Cepea, ambas as variedades são usadas na mistura para consumo no mercado interno.
“Esse café que nós consumimos diariamente, que nós passamos no coador de filtro de papel, que nós compramos no mercado, ele é um blend (mistura) de café arábica e robusta. No Brasil, dois terços da produção é de café arábico e um terço é de café robusta”, afirma.
No Brasil, dois terços da produção é de café arábico e um terço é de café robusta, diz pesquisador da Esalq-USP
Adobe Stock
O pesquisador explica que o Brasil é o maior produtor do mundo na soma das variedades arábica e robusta e também o maior produtor somente de arábica. Já o Vietnã, é o maior produtor da variedade robusta.
“Tanto Brasil como Vietnã vêm sofrendo com problemas climáticos, o Vietnã na produção desse ano deve ter uma quebra principalmente por causa do calor e da falta de chuvas e o Brasil já vem há algumas safras registrando dificuldades em termos de produção. Esse ano mesmo esperava-se mais, mas, em função do calor principalmente, o volume produzido deve ser inferior ao que se esperava anteriormente. Tudo isso tem levado a um aumento de preços”, aponta Ribeiro.
De acordo com o pesquisador do Cepea, uma vez que Brasil e Vietnã são os principais produtores, qualquer cenário climático adverso e qualquer problema de produção nesses países gera um impacto de preço.
O especialista aponta ainda que, nos últimos anos, os estoques mundiais têm sido apertados, o que gera uma crise entre oferta e demanda, acarretando alta de preços.
Após superar variedade arábica pela segunda vez na história, café robusta tem alta de 100% em menos de um ano, aponta USP
Claudia Assencio/g1
Por que o preço do café robusta sempre foi menor?
Renato Garcia Ribeiro explica que o preço do café robusta sempre foi menor que o do arábica porque o primeiro, geralmente, é utilizado nos blends e pouco consumido sozinho, as exceções são os cafés solúveis. Mas, por conta da restrição de oferta, principalmente pelo impacto da produção no Vietnã, os preços da variedade robusta vêm subindo no mercado internacional.
“Vale ressaltar que problemas de fluxo logístico mundial de navios tem encarecido bastante o transporte e além disso o envio de café para a Europa (a União Europeia é o segundo maior bloco consumidor do mundo, o principal são os EUA). Isso fez com que esses problemas de encarecimentos de frete e essa dificuldade logística de enviar produto da Ásia para a Europa, aumentasse demais a exportação do café robusta brasileiro, que geralmente é quase todo consumido no mercado interno”, diz o pesquisador.
Pesquisadores afirmam que o início da safra brasileira 2025/2026 é preocupante nas áreas de ambas as variedades, devido ao cenário de tempo seco e quente
Claudia Assencio/g1
Ajuste de blends
A curto prazo, o pesquisador espera que, para lidar com os preços, indústria realize um “ajuste de blends”. O que possui limite.
“O que a gente espera a curto prazo e já está acontecendo por parte da indústria é um ajuste de blends quanto à proporção de arábica e robusta. Isso tem um limite, senão a empresa acaba mudando o padrão de sabor do café e pode ser que, caso haja mais altas isso possa ser repassado ao consumidor final, mas isso vai depender muito do que vai acontecer para frente”, completa.
Frutos de café arábica da variedade Bourbon
Marcos Serra Lima
Tempo seco
No dia 21 de agosto, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu alertas vermelho, de grande perigo para onda de calor, e amarelo, para baixa umidade do ar em, praticamente, todo interior do estado de São Paulo, incluindo a área de cobertura do g1 Piracicaba (SP) e região, com 18 cidades, com previsão de tempo quente e seco.
Nesta segunda-feira (2), um novo aviso de perigo e grande perigo para baixa umidade do ar e onda de calor foram emitidos pelo Inmet.
Em agosto, o município registrou dois dos menores índices de umidade mínima do ar neste ano, chegando a 15% no último dia 21, segundo dados da Estação Convencional do Posto Meteorológico “Jesus Marden do Santos” da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), o campus da Universidade de São Paulo (USP).
O nível ideal para o índice é acima dos 30%. O aviso amarelo do Inmet indica baixo risco de incêndios florestais . Mas, as instituições fazem recomendações para população. Veja mais, abaixo.
Instituto Nacional de Meteorologia emite alerta laranja de perigo para baixa umidade
Claudia Assencio/g1
VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e região
Veja mais notícias da região no g1 Piracicabag1 > EconomiaRead More