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Especialistas alertam para relação entre maratona de jogos e número de lesões

Especialistas alertam para relação entre maratona de jogos e número de lesões

Médicos observam problemas físicos cada vez mais graves e corpos cada vez mais debilitados por excessos no calendário de futebol Especialista em medicina do esporte avalia lesão de Carvajal: “Não dá para jurar que foi por azar”
s somam 70 lesões em músculos, ligamentos, tendões ou ossos na temporada 2024/25, que tem apenas sete rodadas no Campeonato Inglês e nove no Espanhol. Os dados são do Transfermarket e do BeSoccer.
O alto número de jogos no calendário e a sequência de lesões recentes têm sido temas de debates frequente no universo do futebol. Clubes, ligas e, principalmente, atletas denunciam os excessos no número de partidas e as consequências à saúde dos jogadores. Mas esses dois temas estão de fato conectados? O ge conversou com dois especialistas em medicina do esporte para entender sobre essa relação.
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— Se não cuidarmos da matéria-prima, o espetáculo vai cair de qualidade. Inclusive, vamos ter grandes astros fora do palco. Além de poder se lesionar, jogador cansado não joga bem. A associação existe, e as críticas (ao calendário) são totalmente pertinentes.
A opinião acima é do presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), Dr. Fernando Carmelo Torres. Ele garante que o esforço excessivo dos jogadores sobrecarrega a musculatura, que é a estrutura básica de sustentação de todo o corpo. A consequência é um músculo cansado, altamente suscetível à lesão e que vai perdendo a capacidade de responder às grandes demandas, de acordo com o médico.
Rodri sente o joelho direito em Manchester City x Arsenal pela Premier League
Action Images via Reuters/Jason Cairnduff
Duas das principais competições do mundo apontam a realidade desse tema. Jogadores da Premier League e da LaLiga somam 70 lesões em músculos, ligamentos, tendões ou ossos na temporada 2024/25, que tem apenas sete rodadas no Campeonato Inglês e nove no Espanhol. Os dados são dos portais Transfermarket e BeSoccer.
+ Confira a tabela da LaLiga
Adriano Leonardi é médico ortopedista, especialista em traumatologia do esporte e cirurgia do joelho. Ele concorda com Carmelo e acrescenta que a maratona de partidas afeta um fator crucial para todo profissional do esporte: o descanso adequado. Membro da Sociedade Paulista de Medicina Desportiva, Leonardi explica que, sem a pausa, o corpo não consegue ter tempo para se recuperar completamente do desgaste de uma partida de alto nível.
Alisson sofre lesão durante Crystal Palace x Liverpool e vira preocupação para a Seleção
Getty Images
— Quando você faz uma atividade física, é preciso entrar no descanso para que seu organismo consiga recompor os tecidos. O repouso para todos os esportes profissionais tem que ser de no mínimo 72 horas. E, geralmente, isso não é respeitado, tanto pelos treinamentos quanto pela interposição de campeonatos — comentou Adriano Leonardi.
A seleção brasileira sofreu bastante com esses excessos. Na mais recente convocação para Data Fifa, o elenco teve cinco jogadores que não se juntaram ao grupo por lesão, sendo eles Bremer, Guilherme Arana, Alisson, Vini Jr. e Éder Militão. Desses, apenas o segundo não atua na Europa, e os três últimos disputam as ligas citadas anteriormente.
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Militão, por exemplo, vive uma sequência de lesões. Desde fevereiro de 2023, o zagueiro do Real Madrid esteve quatro vezes no departamento médico. A contusão mais grave foi em agosto do ano passado, quando ele sofreu uma ruptura do ligamento cruzado do joelho e ficou mais de sete meses fora dos gramados.
Só esse ano, o jogador desfalcou a Seleção em quatro rodadas das eliminatórias da Copa do Mundo. Ao todo, Militão ficou 253 dias afastado por lesões nesse período.
Em contrapartida, o zagueiro é muito requisitado nas competições pelo Brasil e o Real Madrid. Após a recuperação da lesão mais séria, em março de 2024, ele esteve em 29 partidas, sendo 15 delas durante os 90 minutos.
Médico explica dinâmica de maratona para atletas que defendem clube e seleção
— Tem um estudo que saiu no jornal acadêmico “British Journal Sports Medicine” que diz que, com acima de 30 jogos por temporada, o índice de lesão já começa a aumentar demais estatisticamente nos atletas. Então, o problema está na associação disso: o excesso de campeonato e o descanso inadequado — argumentou o traumatologista.
Alta demanda x lesões mais graves
Adriano Leonardi e Fernando Carmelo asseguram que atuar em um alto número de partidas também é um fator para aumentar a possibilidade de lesões mais sérias. Sem contar a maior exposição que os jogadores são submetidos, o acúmulo do cansaço deixa o corpo mais sensível.
Leonardi exemplifica com o caso de Dani Carvajal, que passou por cirurgia depois de romper o ligamento cruzado anterior do joelho neste mês. Em uma análise rápida do lance, pode parecer que a falta de sorte resultou na lesão, mas o médico salienta que as razões por trás das imagens sensíveis podem ter ligação com o excesso de esforço do jogador.
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Carvajal lesiona o joelho em chute bloqueado por Yeremi Pino durante Real Madrid x Villarreal
Javier Lizón/EFE
— Você está expondo aquele jogador a mais estímulo do que deveria. Então, o risco de ter um azar é muito maior. Aquela lesão do Carvajal, por exemplo, a gente não consegue jurar por Deus que foi por azar. Pode ser que ele estava extremamente cansado, extremamente não preparado para aquele momento e ele acabou tendo ela lesão ali — disse o ortopedista.
O time de Carvajal, o Real Madrid, é afetado por dois exemplos claros da tendência de inchaço no calendário do futebol, em dois grandes torneios internacionais. Em março, a Uefa anunciou que a Champions League teria um novo formato na edição 2024/25. Além de 36 equipes ao invés de 32, a primeira fase conta com oito confrontos para cada time, dois a mais do que o modelo anterior.
+ Mundial de Clubes 2025 pode fazer times europeus baterem 70 jogos
O Mundial de Clubes segue o mesmo caminho. A nova configuração da competição da Fifa terá 29 dias, de 15 de junho a 13 de julho, no meio do temporada brasileira e no intervalo entre o final e o início das competições na Europa. Além disso, a maior atualização para 2025 é que 32 clubes disputarão o torneio, que até 2023 reunia apenas sete times.
Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte apoia críticas aos calendários
Sobrecarga a longo prazo
Os especialistas alertam que a maratona de jogos é perigosa não só para o presente dos jogadores, mas também para o o futuro. Adriano Leonardi afirma presenciar cada vez mais lesões em atletas profissionais de futebol em seu consultório e trajetórias esportivas cada vez mais curtas.
O médico atesta que, mesmo depois da aposentadoria, as lesões e seus desdobramentos vão acompanhar a vida do atleta.
— Às vezes, só o fato do atleta ficar parado um ano, um ano e meio, já encurta a carreira dele. Além disso, quando ele para, paga consequências muito maiores do que se ele não tivesse sido submetido a uma carga dessa. É aquele famoso joelho de 80 anos de idade em uma pessoa de 40. Eu recebo no consultório ex-atletas profissionais com o joelho muito degenerado, muito mais do que de uma pessoa com a mesma faixa etária que faz uma atividade física moderada, por exemplo — apontou Leonardi.
Bremer sente o joelho esquerdo e é substituído em RB Leipzig x Juventus
Ronny Hartmann/AFP
Carmelo, que também é docente na CBF Academy, atenta para a forma como o futebol moderno exige muito mais dos atletas nos dias de hoje, o que traz um impacto direto para o tempo de carreira em boas condições.
Logo, além de participarem de mais partidas pelo aumento do calendário, os jogadores ainda precisam fazer muito mais esforço do que em treinos e confrontos do passado. Um esporte cada vez mais físico e com uma exposição maior para os profissionais.
— Se você assistir os jogos da década de 1970, como na Copa do Mundo por exemplo, você vê que a velocidade do jogo, o desempenho, a performance física dos atletas era muito diferente. Parece até que estamos vendo um jogo em câmera lenta, em relação aos de hoje. Essa demanda toda exige uma estrutura grande por trás e realmente não está dando tempo desses atletas — esclareceu o presidente da SBMEE.
Ortopedista aponta consequências para alta demanda de partidas no futebol a longo prazo
É possível diminuir os riscos?
Os doutores Adriano e Fernando ressaltam que o descanso deve ser o foco principal para evitar as lesões, mas que os treinamentos adequados são grandes aliados para tentar reduzir as chances.
— A medicina esportiva e a preparação física tentam minimizar esses efeitos dá melhor maneira possível, mas não dá para evitar as as sequelas. O que a gente tenta é reduzir essa possibilidade. Quanto maior a exigência, maior é a demanda muscular e mais lesões vão acontecer. Isso é inevitável. Não tem receita milagrosa. A primeira coisa é jogar menos vezes no ano — concluiu Fernando Carmelo Torres.
Neymar (à esquerda) durante treino do Al-Hilal
Divulgação / Al-Hilal
Para Leonardi, entretanto, a saúde dos atletas entra em conflito com o lado mercadológico do esporte. Os jogadores vivem submetidos a uma rotina intensa de treinos, viagens e partidas e quanto melhor a atuação em campo, mais requisitado esse atleta se torna para voltar aos gramados a todo custo.
— O que acontece é que os atletas muito caros. Você pega o Neymar, por exemplo, todo mundo quer ver o cara jogar, e aí ele acaba sendo colocado em todos os jogos e às vezes em muitas partidas decisivas. E, como resultado, temos o Neymar em um ano parado, reabilitando um ligamento cruzado anterior — afirmou o Dr. Adriano Leonardi.
O debate sobre o aumento de confrontos teve início com a reclamação de jogadores como Rodri, De Bruyne, Koundé e Busquets e alcançou uma nova esfera nesta semana.
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Na segunda-feira, a European League, associação de ligas de futebol da Europa, a LaLiga e a FifPro, sindicato internacional dos jogadores, formularam uma queixa contra a Fifa. O grupo denunciou à Comissão Europeia os excessos no calendário de partidas, citando as possíveis consequências graves ao bem-estar físico e mental dos atletas. geRead More

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