Ex-procurador do STJD cobra jogadores e sugere criação de órgão especializado em apostas
Paulo Schimitt é o atual presidente do Comitê de Integridade da Federação Paulista de Futebol e cita possíveis frentes para combater as manipulações de resultados Brasil é um dos primeiros do mundo em casos de manipulação em partidas de futebol no mundo
Ex-procurador do STJD e atual presidente do Comitê de Integridade da Federação Paulista de Futebol, Paulo Schimitt cobra os jogadores e também mais ações de proteção em meio aos casos de manipulação de resultados. Uma das sugestões é a criação de um órgão especializado junto à CBF para julgar especificamente ações ligadas a apostas esportivas.
– É um tema que merece órgãos especializados, porque não é possível que nós tenhamos casos identificados ou iniciando processos de julgamento mais de um ano depois. A gente precisa trabalhar muito para que a responsabilização ocorra de forma mais contemporânea, a identificação ocorra mais próxima da sua responsabilização. Esses recentes casos que hoje estão sendo noticiados, como casos envolvendo cartões amarelos, servem de alerta – disse Schmitt, ao Globo Esporte Paraná.
– Sugiro que seja um comitê arbitral vinculado à CBF, porém independente e autônomo nas indicações ou por eleição. A matéria é especializada e merece tratamento diferenciado. No movimento olímpico já temos isso, chama-se Comitê de Defesa do Jogo Limpo, órgão vinculado ao COB. Estou cada vez mais convencido de que Justiça Desportiva comum não deve processar e julgar tais casos – prosseguiu.
Após a Operação Penalidade Máxima, deflagrada no ano passado, outros supostos esquemas de manipulação por meio de apostas esportivas vieram à tona recentemente. Um deles tem o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, como investigado em uma operação da Polícia Federal. O jogador afirma ser inocente.
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Schimitt lamenta ainda a ausência do Brasil na Convenção de Maculin, elaborada para combater a manipulação de competições esportivas. O tratado foi ratificado em 2014, por França, Grécia, Islândia, Itália, Moldávia, Noruega, Portugal, Suíça e Ucrânia, com a assinatura de outros 32 países europeus, mais Austrália e Marrocos.
– Infelizmente o Brasil ainda não é signatário de um tratado importante, a Convenção de Maculin, que orienta que precisamos trabalhar em três grandes frentes: a de regulação, a de educação e a de inteligência, investigação e responsabilização de casos – comentou.
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Infoesporte
Paulo Schimitt avalia que o Brasil tem avançado, ainda que de forma tímida, para evitar esses problemas. Ele cita o caso da “Máfia do Apito”, de 2005, envolvendo o ex-árbitro Edilson Pereira de Carvalho, como o passo inicial para essa evolução. Além disso, destaca a recente regulação das bets, feita pelo Governo Federal.
Apesar disso, o ex-procurador do STJD espera mais ações práticas para coibir essas manipulações.
– É preciso que a gente trate esse problema no ponto de vista de proteção do futebol. Ao lado de controle, fiscalização e eventualmente responsabilização e competição, porque manipular competição é crime no Brasil com previsão de penas de dois a seis anos de reclusão e multa, a gente precisa trabalhar nos aspectos educacionais.
Scmitt fez uma cobrança especial aos jogadores.
– A aposta pertence ao público em geral. Os atletas têm que estar conscientes que, além deles não poderem apostar, seus familiares também não podem apostar nos jogos que eles participam. Esse é um crime complexo e que temos várias frentes para tentar identificar e erradicar os casos – finalizou.
“É preciso proteger o atleta honesto. É preciso dizer pra ele com todas as letras que desse tipo de aposta ele só sai muito ameaçado, punido desportivamente e criminalmente, e até morto, não só ele como todo entorno”, declarou.
Paulo Schimitt, ex-procurador do STJD
Reprodução
Além de presidente do Comitê de Integridade da Federação Paulista de Futebol, Paulo Schimitt é atualmente consultor de Integridade do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) – Divisão de Prevenção e Combate à Manipulação de Competições, e também presidente do Comitê de Integridade e Apostas Esportivas da Siga Latin America.
Entre 2006 e 2016, Paulo Schimitt foi procurador-geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).
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