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OPINIÃO: história mostra que Jorge Jesus é o melhor nome para a seleção brasileira

OPINIÃO: história mostra que Jorge Jesus é o melhor nome para a seleção brasileira

Ao olhar a história da Seleção, o atual caos sempre foi a regra dos times mais vencedores de nossa história A Seleção Brasileira vive uma de suas maiores crises em décadas. A demissão de Dorival Júnior após apenas 16 jogos escancara um caos institucionalizado desde a saída de Tite, depois da Copa do Mundo de 2022.
Foram três técnicos em menos de dois anos. Ramon Menezes, Fernando Diniz e Dorival Júnior não tiveram tempo, respaldo ou sequer um projeto de verdade.
Como resumiu de forma brilhante Carlos Eduardo Mansur, é um contexto onde “todos parecem piores do que realmente são”. O ápice do amadorismo da atual gestão foi a busca frustrada por Carlo Ancelotti: Ednaldo Rodrigues apostou todas as fichas em um treinar empregado, que jamais assinou nada e nunca sequer demonstrou real disposição para assumir o cargo.
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Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, anuncia a demissão do técnico Dorival Júnior
CBF
Como acontece em toda crise da seleção pentacampeão, diagnósticos que mais parecem clichês voltam a ser repetidos à exaustão. O “problema”, se é que existe um só, passa a ser tudo: do técnico defasado à suposta falta de talento e protagonismo dos jogadores, das relações comerciais da CBF (quem lembra da Selenike?) até o rei clichê, o de que “ninguém liga mais para a Seleção”.
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A melhor forma de quebrar o ciclo de diagnósticos que não levam a lugar nenhum é entender a história. Hegel disse que a história tende a se repetir. Karl Marx completou: primeiro como tragédia, depois como farsa.
O caos é método no futebol brasileiro, não um problema
Pois o futebol brasileiro vive hoje justamente a farsa de uma história que lembra, em muitos aspectos, os ciclos vitoriosos das Copas do Mundo de 1994 e 2002. Só não se parece ainda mais com o de 1970, eternizado como o “time dos sonhos”, porque naquela época o Brasil passou com tranquilidade pelas Eliminatórias.
Essa história se repete porque há um padrão imutável de como as coisas funcionam no futebol brasileiro e, em certa medida, na própria sociedade: o caos como método. Esqueça os ciclos bem planejados, a CBF formadora, o técnico estrategista de manual europeu. O Brasil JAMAIS em caixa alta porque merece ênfase, conquistou uma Copa assim.
Parreira e Zagallo estão no hall de grandes pensadores do futebol brasileiro tetra
Getty Images
As três últimas taças vieram do mais puro caos. Primeiro, o que se instaurou com a demissão de João Saldanha e a crise com Pelé, que acusava o treinador de cortar sua liberdade em campo. Depois, o tumultuado pós-1990, com a chegada de Falcão e a chegada de Parreira como solução.
Em 2002, roteiro que beira livro de ficção: o ciclo começou com Vanderlei Luxemburgo, passou por escândalos e tribunais, chegou em Emerson Leão, sobrou para Candinho, até que, num típico enredo sebastianista, surgiu Luiz Felipe Scolari. Exatos onze meses antes do penta, o Brasil era eliminado da Copa América por Honduras, até então considerado o maior vexame da história da Seleção (o 7 a 1 é o maior).
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Dirigentes amadores, calendários insanos, falta de planejamento, demissão em massa de treinadores. Não precisa ir muito longe para entender que o caos como método vai além da seleção: é a razão de ser do nosso futebol, é nossa marca como país. O drible, o inesperado, o lance que escapa da lógica dos jogadores mais talentosos espelham essa lógica pro jogo e até fez uma típica tática brasileira, como você leu aqui.
A história mostra que o treinador campeão do mundo não é produto de um ciclo. Não vem da estrutura. Tite e Telê Santana fizeram ciclos perfeitos em duas Copas e nenhum tem taça. Dunga em 2006 e Mano Menezes em 2010 prometeram reestruturação. Parreira, em 2006, e Zagallo, em 1998, também tentaram impor ordem e falharam.
O técnico que vence a Copa do Mundo, no Brasil, costuma ser aquele que assume a liderança em meio à bagunça. É quem aceita a bagunça como parte do jogo.
Ao olhar para todos os treinadores disponíveis no momento, só um encarna toda essa lógica: Jorge Jesus.
Jorge Jesus Al-Hilal
Yasser Bakhsh – Fifa via Getty Images
Quatro argumentos para Jorge Jesus na Seleção
Não se trata de medir quem é melhor entre Ancelotti, Jesus ou Abel Ferreira. Ninguém discute que Carlo Ancelotti é um dos maiores treinadores da história. A questão aqui é de contexto. Trata-se de entender qual nome se encaixa melhor no momento que vivemos.
Vamos aos argumentos:
Conhecimento do país: Jorge Jesus conhece o futebol brasileiro por dentro. Entre 2019 e 2020, entendeu sua cultura, seus dilemas, suas contradições. Foi protagonista de uma das temporadas mais marcantes do país nas últimas décadas, quando fez o Flamengo jogar um futebol dominante, intenso e organizado. E fez isso mergulhado no mais puro caos, após a demissão de Abel Braga, em meio a uma pressão que lembra e muito o momento vivido pela Seleção Brasileira.
Tempo: Jorge Jesus também foi o treinador que melhor soube lidar com uma variável fundamental quando se fala em futebol brasileiro: o tempo. Foi curioso ouvir pedidos por Fernando Diniz na Seleção sem considerar o quanto ele precisa de tempo para fazer seus times jogarem bem. Jorge Jesus, não. Em duas semanas, durante a parada da Copa América de 2019, nos apresentou um Flamengo que parecia estar sendo talhado há anos — de tão organizado, intenso e entrosado. Em um cenário de seleções, onde o tempo de trabalho é escasso por natureza, sua capacidade de comunicação, liderança e adaptação se tornam trunfos raros.
Comunicação: pouco se fala, mas uma das chaves do sucesso dos treinadores portugueses no Brasil é algo simples e poderoso: a língua. Saber se comunicar diretamente com o jogador brasileiro, sem tradutores e ruídos, faz a diferença no dia a dia de treinos e nas entrevistas coletivas. É ali que se constrói confiança, liderança e respaldo.
Perfil de liderança: a aceitação popular, nesse caso, não jogaria contra nem Ancelotti, nem Jorge Jesus. Mas há um fator que pesa a favor do português: o perfil do técnico brasileiro que vence Copas do Mundo. Costuma ser uma figura folclórica, contestadora, que não tem medo de bancar decisões impopulares, mesmo sob intensa pressão.
Zagallo era questionado diariamente sobre Tostão em 1970. Parreira ganhou a fúria do país ao tirar Raí em 1994. E Felipão, em 2002, comprou a maior das brigas ao deixar Romário fora da convocação. Esse espírito de liderança firme, que resiste ao clamor popular e se impõe nas decisões difíceis, sempre teve um peso simbólico muito forte na trajetória vitoriosa da Seleção. Não que Ancelotti não tenha, mas seu perfil é muito mais conciliador do que um impulsitor como Jesus.
Neymar e Jorge Jesus na final da Supercopa Saudita
Al Hilal
Mais uma vez, vale reforçar: não se trata de escolher “o melhor”. Quantas vezes você viu um craque jogando mal porque não encaixava no time? (Oi, James Rodríguez no São Paulo.) Quantas vezes um técnico foi genial em um clube e não funcionou em outro? Futebol, tal como a vida, não é maniqueísta. Não é simples assim: o bom dá certo, o ruim dá errado.
O que estamos discutindo aqui é contexto, momento, percepção. Ancelotti, Abel Ferreira, Mourinho… todos são técnicos brilhantes. Assim como Tite é um ótimo treinador. E Dorival, que venceu por onde passou, também merece o seu e o nosso respeito.
Mas quando olhamos para a história, para não sermos condenados a repeti-la, só um nome parece reunir tudo o que o caos institucionalizado do futebol brasileiro pede para voltar a ser vencedor.
Lembrando que está é uma mera opinião. Concorde ou não, quem decide é a CBF, que não costuma olhar muito para a história do país. A conferir os próximos passos de uma crise sem fim.
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