Braithwaite lamenta exposição por cobrança de dívida do Grêmio, narra bastidores e projeta 2026
Braithwaite cobra dívida milionária do Grêmio
Braithwaite se manifestou pela primeira vez sobre o fato de ter cobrado do Grêmio o pagamento de uma dívida milionária com ele. Em carta enviada ao ge com exclusividade, o dinamarquês lamentou que o episódio tenha se tornado público, narrou bastidores do caso e projetou o ano de 2026.
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Nos últimos dias, o Grêmio quitou a dívida de R$ 7 milhões com o jogador. O clube fez o pagamento em duas parcelas, de R$ 5 milhões e R$ 2 milhões, referentes à luvas acordadas quando da contratação do atacante, em julho de 2024.
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No relato, Braithwaite garantiu que o vazamento da informação não partiu dele ou do seu estafe. Ele conta que aceitou um salário “baixo” no primeiro ano de clube, esperando receber a compensação no ano seguinte. Mas o Grêmio descumpriu diversos acordos para resolver a pendência durante a gestão do presidente Alberto Guerra e que ele próprio chegou a procurar a direção para conversar.
O atacante também diz que seu advogado procurou a gestão do novo presidente, Odorico Roman, para tratar do assunto, mas foi ignorado em um primeiro momento. Sem perspectiva de solução, se viu obrigado a notificar o Grêmio formalmente da cobrança.
Por fim, o dinamarquês relata que, mesmo sem receber o que lhe era devido, entrou em campo diversas vezes sem estar 100% fisicamente até sofrer uma lesão grave no tendão de Aquiles, em meados de setembro. Ainda em recuperação, ele tem previsão de retorno em abril de 2026.
Confira o relato de Braithwaite:
“Nas últimas duas semanas, estive fora do Brasil para passar um tempo com a minha família e focar na minha recuperação. Durante esse período, no entanto, muitas coisas foram ditas e feitas na minha ausência, e sinto a responsabilidade de tratá-las de forma direta.
Eu poderia ficar em silêncio e permitir que ‘fontes’ falassem por mim, como foi feito contra mim. Mas sempre acreditei que a honestidade importa. Sempre falei abertamente sobre aquilo em que acredito. As pessoas podem concordar ou não, mas ao menos sabem que minhas palavras vêm de mim.
Braithwaite, atacante do Grêmio
Eduardo Moura
Não gosto de falar sobre dinheiro. Mas quando narrativas são criadas para definir o caráter de uma pessoa, o contexto importa. Há fatos que precisam ser levados em consideração antes que qualquer julgamento seja feito.
Cheguei ao Grêmio cheio de entusiasmo e ambição. Senti genuinamente que era meu destino vir para cá. A região havia acabado de sofrer uma catástrofe natural, e o clube atravessava um momento difícil. Ainda assim, acreditei profundamente na ambição, na história e na força do Grêmio. Acreditei que poderia ajudar o clube a se reconstruir, junto com os jogadores que já estavam aqui – e nós conseguimos.
Para 2024, aceitei um salário muito baixo, com o entendimento de que parte dos meus vencimentos seria paga em parcelas em 2025. Confiei no destino, no projeto e nas pessoas. Essa foi a minha escolha, feita de boa-fé.
Para 2024, aceitei um salário muito baixo, com o entendimento de que parte dos meus vencimentos seria paga em parcelas em 2025″
Quando chegou o momento de pagar essas parcelas, apenas a primeira foi paga. A segunda, que vencia em abril, nunca chegou. Junto com meus agentes, procurei o clube repetidas vezes para encontrar uma solução. Confiei na palavra deles. O clube nos informou que também não conseguiria fazer o pagamento seguinte, mas propôs, por conta própria, um cronograma de pagamento. Aceitei as datas sugeridas por eles.
Quando essas datas chegaram, o acordo foi descumprido. Os pagamentos não foram feitos.
Foi a primeira vez que percebi que apenas palavras não eram suficientes. Eu não queria envolver advogados ou notificações formais. Acreditei que o diálogo seria suficiente. Eu estava errado. Meses se passaram com ligações sem resposta, respostas adiadas e muita incerteza. Parte do valor foi pago e posteriormente me foi apresentada uma nova proposta de pagamento, que não era aceitável, mas eventualmente chegamos a um novo acordo: um plano de pagamento que se estenderia até o início de 2026. Um contrato foi elaborado para proteger ambas as partes – eu me comprometi a dar tempo ao clube, e o clube se comprometeu a honrar a dívida. Esperamos meses para que esse contrato fosse assinado. Isso nunca aconteceu.
A primeira parcela desse novo acordo foi paga. A segunda, não.
Houve momentos em que meus agentes foram ignorados ou informados de que as pessoas estavam ocupadas demais para conversar. Em algumas ocasiões, em vez de ir para casa após o treino para descansar para os jogos, fiquei esperando do lado de fora de escritórios apenas para conseguir uma conversa – porque, caso contrário, nenhuma conversa acontecia. Em novembro, tentamos repetidas vezes finalizar a redação do contrato. Não houve resposta. No início de dezembro, perguntamos novamente sobre o pagamento em atraso e nos disseram que ele seria feito naquela mesma semana. Não foi.
No dia 8 de dezembro, data da posse da nova gestão, meu advogado entrou em contato mais uma vez com o clube de forma respeitosa e cooperativa, buscando apenas clareza sobre o pagamento em atraso e o contrato pendente. Não houve resposta. No dia 10 de dezembro, foi enviada uma terceira notificação formal – não por hostilidade, mas porque todas as outras alternativas haviam falhado.
Dizer que eu não tentei encontrar uma solução não é justo nem verdadeiro.
Em algumas ocasiões, em vez de ir para casa após o treino para descansar para os jogos, fiquei esperando do lado de fora de escritórios apenas para conseguir uma conversa”
Eu entendo o quão difícil é assumir a gestão de um clube de futebol. Entramos em contato com respeito. Se a nova direção não foi informada sobre essas questões, não sei dizer o motivo. O que eu sei é que um plano de pagamento foi acordado e não foi cumprido. Quando o diálogo se torna impossível, proteger os próprios direitos por meios legais passa a ser a única opção responsável.
Durante todo esse processo, nunca falei publicamente contra o clube. Nunca vazei informações. Nunca quis que o Grêmio fosse retratado como um clube que não honra seus compromissos, porque isso prejudica a capacidade do clube de atrair jogadores – e, no fim das contas, prejudica a todos, inclusive a mim. Minha ambição sempre foi conquistar títulos aqui. Então eu pergunto: aqueles que vazam informações seletivas percebem que estão prejudicando o clube que dizem proteger?
Dentro de campo, sempre dei tudo de mim. Todos sabem como voltei rapidamente de lesão para jogar fora de casa contra o Sportivo Luqueño. Eu me sentia pronto e queria ajudar. Contribuí para a vitória, mas, no lance final da partida, torci o tornozelo. Voltei antes do recomendado, jogando sem conseguir correr direito. Isso é futebol.
Contra o Juventude, fora de casa, sofri uma contusão óssea e mal conseguia andar antes do jogo em casa contra o Corinthians. Não treinei. Joguei após receber anestesia apenas para amenizar a dor. Eu não sentia o pé ao correr ou ao tocar na bola. Como consequência, não consegui andar corretamente durante toda a pausa de junho e perdi os primeiros jogos de julho. Recebi duas infiltrações de corticoide para controlar a inflamação e a dor. Continuei jogando apesar do forte desconforto, até que, por fim, meu tendão de Aquiles cedeu sem que tivéssemos qualquer sinal de que isso aconteceria.
Tudo isso aconteceu enquanto eu não estava recebendo o que me era devido, e enquanto acordos estavam sendo descumpridos. Quando eu poderia ter descansado, eu joguei. Porque é assim que eu sou e sempre fui. Fui até o limite de minhas condições físicas e dei minha saúde pelo clube.
Braithwaite passa por cirurgia e deve voltar a jogar em 2026
Se as pessoas quiserem ficar com raiva de mim e me retratar como a causa dos problemas financeiros do clube, que seja. Eu posso carregar esse fardo.
Mas há uma questão mais profunda aqui. No futebol, existe uma tendência pouco saudável de transferir a responsabilidade por uma má gestão para os jogadores e de usar influência e vazamentos para virar os torcedores contra os próprios atletas. Eu não culpo os leitores nem os torcedores – as pessoas acreditam naquilo que lhes é dito.
Isso não é apenas sobre futebol. As pessoas trabalham duro pelo que ganham. Empresas e instituições detêm poder. Quando esse poder é usado para negar aquilo que é devido, que voz resta ao indivíduo? Alguns dirão que jogadores de futebol são diferentes porque os valores são maiores – mas o princípio é realmente diferente? A dignidade vale menos por causa da profissão?
Continuarei trabalhando incansavelmente para voltar o mais rápido possível e ajudar a equipe a disputar títulos – porque isso é o que realmente importa”
Se aqueles que têm voz não se posicionam pelo que é certo, quem falará por aqueles que não têm? Devemos aceitar um mundo em que instituições poderosas podem deixar indivíduos de lado simplesmente por exigirem aquilo que é legitimamente seu?
Atualmente, estou passando pelo período mais difícil da minha carreira. Ser retratado como alguém que não quis ajudar o clube, ou como responsável por problemas que existiam muito antes da minha chegada, diz muito mais sobre a narrativa que está sendo criada do que sobre quem eu sou.
Todos os dias, imagino entrar em campo na Arena, cercado pelos gremistas. Essa sensação tem me sustentado nos momentos mais sombrios desta recuperação. Ela me lembra por que estou aqui.
Continuarei trabalhando incansavelmente para voltar o mais rápido possível e ajudar a equipe a disputar títulos – porque isso é o que realmente importa. Acredito na nova gestão e na comissão técnica, em suas ideias e ambição. Vamos seguir em frente com união e positividade e fazer de 2026 o início de algo realmente especial.
Dale Grêmio!
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