Dono de rede multiclubes garimpa jovens da Série A e vê Mirassol como exemplo a seguir
Dono da SAF do Londrina fala sobre diferencial e próximos passos de rede multiclubes
Dono da SAF do Londrina e de uma rede multiclubes brasileira, Guilherme Bellintani mira novos passos em 2026. Em entrevista ao ge, o dirigente contou os diferenciais e os objetivos traçados no terceiro ano de projeto com a Squadra, liderando o Tubarão e outros quatro times brasileiros, e colocou o Mirassol como um exemplo a ser seguido.
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Um dos pontos destacado por Bellintani no Londrina e na rede está o “garimpo” de jovens formados em clubes da Série A, fechando acordos com percentuais para ambas as partes em futuras negociações.
– Se alguém perguntar qual é a grande novidade a Squadra traz no futebol brasileiro, em relação a perspectiva econômica futura, eu diria que é potencializar jovens bem formados por clubes grandes do Brasil. A gente traz um movimento que ninguém faz, que é pegar jogadores de alto nível de formação, mas com poucas chances em seus times, e potencializar – explicou.
Além disso, o dirigente detalhou a busca por uma ampliação da rede multiclubes na Europa e na América do Sul, além do desafio de liderar o Londrina com uma folha enxuta em uma Série B do Brasileiro inflacionada nos últimos anos.
– O futebol brasileiro viveu uma injeção de recursos muito agressiva, dinheiro das bets, de SAF, venda de direitos comerciais. Clubes que gastavam R$ 800 mil, R$ 1 milhão em uma folha de Série B, passaram a gastar R$ 2 milhões ou R$ 3 milhões. Isso é insustentável no longo prazo. A folha que a gente vai ter em 2026 vai ser uma das menores da competição – resumiu.
– A SAF do Londrina não é milionária, não é uma SAF que o dinheiro faz a diferença. O diferencial é muito mais a estratégia de gestão do que o dinheiro disponível – comentou.
Veja abaixo os principais pontos da entrevista:
Guilherme Bellintani, dono da SAF do Londrina
Rafael Martins/Londrina EC
SAF do Londrina
Ex-presidente do Bahia, Guilherme Bellintani começou a trabalhar com a própria empresa, a Squadra Sports, e o primeiro grande passo foi a compra da SAF do Londrina, em 2024, com investimento previsto de R$ 100 milhões em seis anos.
Nesse valor estão inclusos o pagamento das dívidas anteriores do clube (R$ 22 milhões), melhorias no estádio VGD (parte feita já em 2025, com o time voltando a mandar jogos no local) e a construção de um centro de treinamentos, algo que o Londrina ainda não possui (previsão de entrega da primeira parte das obras para 2026).
Em campo, a Squadra pegou o Londrina na Série C e conseguiu agora o acesso à Série B, um ano antes do previsto inicialmente. O Tubarão conquistou também uma vaga na Copa do Brasil 2026, voltando à competição após dois anos fora.
– A gente tem um projeto muito pé no chão, previa três anos na Série C, conseguiu subir no segundo ano. Agora na Série B o nosso projeto é de três anos de estabilidade, tentar performar no meio da tabela, fortalecendo o clube, terminando nosso centro de treinamentos, melhorando nossa estrutura do estádio, pagando as dívidas históricas que o clube tinha. Só depois disso sonhar mais alto. Para que o sonho aconteça, a gente tem que passar uma fase de pé no chão e estabilidade – disse.
– O nosso trabalho é dar para o Londrina uma infraestrutura que ele possa beber dessa fonte, aproveitar durante 10, 15, 20 anos, da melhor forma possível. Infraestrutura ganha jogo, faz um clube maior – destacou.
Série B inflacionada e folha de pagamento curta
Para conquistar essa estabilidade na Série B, Bellintani tem apontado um orçamento em torno de R$ 28 milhões de receita para 2026. A folha salarial prevista é de R$ 800 mil no Paranaense e depois chegando a R$ 1 milhão, no começo da Série B, e a R$ 1,2 milhão na segunda janela.
Os valores, segundo o próprio dirigente, devem representar uma das menores folhas da Série B, considerando o que foi feito nos últimos dois anos, principalmente após os clubes receberem altas quantias.
– A gente espera compensar com uma escolha de atletas mais racional, com mais critério na definição dos investimentos do futebol. Considerando que a folha de futebol é 70% ou 80% dos gastos de um clube, se você acerta nas decisões sobre futebol, em geral está acertando sobre todo o orçamento do clube – avaliou.
Dono da SAF do Londrina indica próximos passos após acesso à Série B
Garimpo de jovens promessas na Série A
O Londrina já acertou pelo menos 11 reforços para a temporada 2026. Deste total, seis se enquadram em um novo foco de contratações traçado pela Squadra: são jogadores jovens, que tiveram raras chances no profissional, mas são vistos com um bom potencial.
A diferença é que os reforços não chegam por empréstimo, mas sim com contratos em definitivo, com o Londrina dividindo um percentual dos direitos do atleta em conjunto com o outro clube.
Foi assim que o Tubarão acertou com o volante Fabiano, do sub-20 do Flamengo, com o lateral André Dhominique, do Bahia, e com os atacantes Crysthyan, do Internacional e ex-Fluminense, e também João Pedro, do Cruzeiro.
– A gente bate na porta desses clubes de Série A, a minha relação, com seis anos como presidente do Bahia, facilita isso, e fala: você tem um jogador que é uma joia, um talento, mas não vai jogar no seu time; traz ele em definitivo para o Londrina, a gente faz uma repartição de direitos, aqui ele vai ser vendido, porque aqui ele vai jogar. No seu clube provavelmente vai perder valor de mercado, não vai ser vendido até acabar o contrato. É melhor dividir com a gente, e a gente vender juntos – detalhou.
– Muitos clubes estão acreditando nesse processo, usando o Londrina, entre aspas, como um clube de valorização dos seus ativos, e para a gente é muito interessante porque a gente não consegue formar jovens nesse nível ainda e a gente tem um trabalho longo para fazer na nossa base até chegar nesse nível. Ao mesmo tempo encurta o caminho para trazer jovens, potencializar nosso jogo e eventualmente vendê-los ao mercado internacional – prosseguiu.
– Os clubes da Série A não são nossos concorrentes. São nossos parceiros, clientes. Antes o futebol brasileiro discutia muito: ou você compra jogador pronto mais velho, ou investe em base. A gente está encontrando algo que não é nem uma coisa e nem outra. A gente quer trazer jogador jovem, mas que já está formado por grandes clubes e não sendo potencializado lá. É um diferencial econômico que a Squadra está implementando, que é novo no futebol brasileiro, e que está colocando como grande potencial de desenvolvimento econômico do nosso projeto – concluiu.
Fabiano, ex-Flamengo, é um dos reforços do Londrina
Rafael Martins/Londrina EC
Mirassol: exemplo a ser seguido
Bellintani também falou sobre o sucesso do Mirassol, que saiu de sem divisão em 2019 para uma Libertadores em 2026. Para o dirigente, a trajetória do clube paulista serve como exemplo, principalmente pensando no Londrina, ainda que o Mirassol não seja uma SAF também.
– Esse exemplo do Mirassol é maravilhoso para o futebol brasileiro. Eu acompanho o Mirassol desde a Série D, tem uma gestão espetacular, uma liderança maravilhosa de Juninho, de todo o trabalho que é feito lá. Todo mundo quer ser um pouco o Mirassol e dá para ser um pouco o Mirassol – disse.
– Dá para olhar e ver o que tem de sucesso ali, de muito trabalho ali que só é visto hoje, mas já vem de anos e anos. O que tem de decisões que no começo foram questionadas, de não trazerem jogadores badalados demais, folhas muito caras, mas que no final está provando para todos que há caminhos alternativos no futebol brasileiro e rentáveis, inclusive – continuou Bellintani.
– O exemplo da moda, que é o Mirassol, mostrou que investimentos racionais podem fazer sentido. Nosso objetivo é também aprender com os clubes grandes, o que estão fazendo e o que a gente não quer repetir: inflação de folha, gastos exorbitantes, acumulo de dívidas, que no curto prazo o torcedor fica até feliz, porque vêm jogadores mais badalados, mas no longo prazo a gente vê os clubes se destruindo por causa dessas decisões erradas – completou.
Guilherme Bellintani, dono da SAF do Londrina
Rafael Martins/Londrina EC
Rede multiclubes
Com inspiração no Grupo City, Guilherme Bellintani tem apostado no modelo de rede multiclubes dentro do Brasil. O formato repete o que é feito por vários grupos fora do país, mas com foco mais nacional.
Além do Londrina, a Squadra Sports, de Bellintani, está à frente atualmente do Linense-SP, do VF4-PB, do Ypiranga-BA e do Conquista-BA, esses focados mais na base.
A empresa busca agora dar passos internacionais, com a negociação para compra de um time da terceira divisão de Portugal, além de buscar um clube no Uruguai.
– A Squadra é um multiclubes abaixo do radar. A gente não está comprando clubes muito badalados, de Série A e com torcidas enormes. A gente procurou um clube que tem uma importância regional muito forte e uma camisa boa no futebol brasileiro, uma camisa respeitada, onde os jogadores querem vir jogar, uma cidade boa de morar. A gente compra clubes menores e busca, com formação de jogador, inclusive para clubes maiores, rentabilizar o projeto – comentou.
– A ideia é ter um clube em Portugal, que a gente possa trabalhar para elevar o nível técnico dele, elevar o nível de competição, e vender jogador a partir de Portugal e não só a partir do Londrina e do Linense. A gente diz que na nossa plataforma cada clube tem um objetivo, um foco. Conjuntamente, a força de todos juntos vai conseguir potencializar cada um individualmente – completou.
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