Fed corta juros dos EUA pela 3ª reunião seguida, para a faixa de 3,50% a 3,75% ao ano
Foto de arquivo: O presidente dos EUA, Donald Trump, observa Jerome Powell, seu indicado para presidir o Federal Reserve (Fed), durante discurso na Casa Branca, em Washington, EUA, em 2 de novembro de 2017.
REUTERS/Carlos Barria/Foto de arquivo
O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, reduziu as taxas de juros do país em 0,25 ponto percentual, para a faixa de 3,50% a 3,75% ao ano — menor nível desde setembro de 2022. A decisão, anunciada nesta quarta-feira (10), veio em linha com a expectativa do mercado financeiro.
Esse foi o terceiro corte seguido nos juros americanos — e também o terceiro em 2025. Na reunião anterior, em 29 de outubro, o Fed reduziu a taxa na mesma proporção, para a banda de 3,75% a 4% ao ano. (veja no gráfico abaixo)
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A decisão desta quarta foi motivada, mais uma vez, pela preocupação do banco central dos EUA com o enfraquecimento do mercado de trabalho. Os dados do setor voltaram a ser divulgados em novembro, com restrições, após o término do maior shutdown da história, que durou 43 dias.
🔎 Shutdown é a paralisação parcial do governo dos EUA quando o Congresso não aprova o orçamento. Durante o período, órgãos públicos suspendem serviços não essenciais — incluindo a divulgação de dados econômicos.
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O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) afirmou, em comunicado, que a criação de empregos diminuiu neste ano, enquanto a taxa de desemprego aumentou um pouco. “Indicadores mais recentes são compatíveis com esses movimentos”, diz o texto.
A inflação, por sua vez, “continua ligeiramente elevada”, acrescentou o colegiado. Atualmente, a taxa está em 3%, acima da meta de 2% estabelecida pelo Fed.
“O Comitê busca alcançar o máximo emprego e inflação de 2% no longo prazo. A incerteza sobre as perspectivas econômicas continua elevada. O Comitê está atento aos riscos relacionados aos dois lados de seu duplo mandato e avalia que os riscos negativos para o emprego aumentaram nos últimos meses”, diz o texto.
Os dados, portanto, levaram o BC dos EUA a priorizar a preocupação com o mercado de trabalho em vez de focar no avanço dos preços. Isso acontece porque o banco central dos EUA tem um mandato duplo: precisa estimular o emprego e controlar a inflação.
🤔 De um lado, cortes nos juros costumam tornar o ambiente mais favorável ao mercado de trabalho. Do outro, também podem pressionar a inflação ao tornar o crédito mais acessível.
➡️ A política de juros nos EUA gera reflexos no Brasil. Quando as taxas americanas caem, tende a diminuir a pressão para que a taxa básica de juros brasileira (Selic) permaneça elevada. Além disso, há possíveis efeitos sobre o câmbio, com valorização do real frente ao dólar. (leia mais abaixo)
A decisão desta quarta-feira foi a oitava desde que Donald Trump assumiu como 47º presidente dos EUA, em 20 de janeiro — e a terceira com redução dos juros. Desde a posse, o cenário econômico se tornou mais adverso diante da guerra tarifária promovida pelo republicano.
Economistas, agentes do mercado e o próprio Fed têm destacado os impactos nos EUA das sobretaxas aplicadas por Trump. Um dos principais receios é o aumento da inflação ao consumidor americano, uma preocupação que levou o BC do país a postergar a decisão de reduzir os juros.
Nos últimos meses, no entanto, dados de um mercado de trabalho mais fraco indicaram uma desaceleração da economia americana, permitindo cortes pelo Fed. Ao mesmo tempo, a inflação permaneceu sob controle, embora continue acima da meta de 2% da instituição.
No comunicado desta quarta, o Fomc afirmou que “continuará monitorando as implicações das novas informações para as perspectivas econômicas” e que está “preparado para ajustar a política monetária, se necessário, caso surjam riscos que possam comprometer o alcance de seus objetivos”.
Como previsto por analistas, a votação desta quarta-feira não foi unânime. Dos 12 membros do Fomc, nove votaram pelo corte de 0,25 ponto percentual, incluindo o presidente do Fed, Jerome Powell.
O diretor Stephen Miran, nomeado por Trump em setembro, defendeu um corte maior, de 0,50 ponto percentual. Já outros dois integrantes do colegiado preferiram manter os juros.
Mudança na presidência do Fed
Crítico das decisões do Federal Reserve, Donald Trump disse que anunciará no início do ano que vem o substituto do atual presidente da instituição, Jerome Powell — alvo frequente das críticas do republicano. O mandato de Powell termina em maio de 2026.
Trump chegou a afirmar em algumas ocasiões sua pretensão de indicar o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent — que recusou o convite. Com isso, o nome de Kevin Hassett, conselheiro econômico da Casa Branca, passou a ser apontado como o favorito para o cargo.
Em entrevista ao site Politico, publicada na terça-feira (9), o presidente dos EUA foi questionado se apoiar a redução dos juros seria um requisito para o próximo indicado a comandar o Fed. Ele respondeu: “Sim”.
Os governadores do Fed, Christopher Waller e Michelle Bowman, também aparecem entre os cotados para assumir a presidência da instituição. A escolha ocorrerá justamente em um momento marcado pela pressão de Trump por cortes nos juros.
Nos últimos meses, o presidente dos EUA se dedicou a indicar pessoas alinhadas à sua agenda econômica para a diretoria do banco central norte-americano.
Em janeiro, a Suprema Corte irá analisar a tentativa de Trump de remover Lisa Cook da diretoria do Fed. Até lá, ela continua no cargo. Além disso, o republicano já nomeou Stephen Miran para substituir Adriana Kugler, que antecipou sua saída em agosto.
Caso a Justiça confirme a demissão de Lisa Cook, Trump terá garantido ao menos duas indicações para a diretoria do Federal Reserve — além da presidência, que está no horizonte.
Em meio às movimentações no Fed, caso Trump alcançasse a maioria de aliados no conselho da instituição — que tem sete membros —, ele teria maior influência sobre a aprovação das nomeações nos 12 bancos regionais. Assim, ampliaria sua interferência sobre a política monetária.
Efeito dos juros no Brasil — e nos mercados
Juros mais baixos nos EUA reduzem o rendimento das Treasuries, os títulos públicos norte-americanos.
Como são considerados os produtos de investimento mais seguros do mundo, Treasuries com rentabilidades mais altas atraem investidores estrangeiros, que direcionam seus recursos para os EUA, fortalecendo o dólar.
Dessa forma, quando os juros caem por lá, investidores podem buscar oportunidades em outros países, como o Brasil, aumentando o fluxo de capital e valorizando o real em relação à moeda norte-americana.
Além disso, um dólar mais fraco reduz a pressão sobre a inflação por aqui, com reflexos no ciclo de juros do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central do Brasil.
Prédio do Federal Reserve dos EUA em Washington, EUA (maio/2020)
Kevin Lamarque / Reutersg1 > Mundo Read More


