Geradores, lanternas e medo: o inverno mais duro da Ucrânia desde o início da guerra
A intensificação dos ataques da Rússia contra a infraestrutura energética da Ucrânia está levando o país a uma das situações mais críticas desde o início da guerra. Com bombardeios concentrados em usinas, subestações e redes de transmissão, o sistema elétrico ucraniano enfrenta apagões prolongados justamente no período mais rigoroso do inverno europeu. As informações são do Washington Post.
Autoridades ucranianas afirmam que os ataques se tornaram mais frequentes e estratégicos desde outubro, resultando em cortes de energia que chegam a durar até 16 horas por dia em grandes cidades como Kiev. Empresas e serviços essenciais passaram a operar quase exclusivamente com geradores, enquanto moradores enfrentam frio intenso e dificuldades no cotidiano.
Kiev durante o apagão causado pelos ataques de mísseis russos, novembro de 2022 (Foto: WikiCommons)
Segundo o Ministério da Energia da Ucrânia, a Rússia lançou cerca de 5 mil drones e mísseis apenas no mês de novembro, mais que o dobro da média registrada no início de 2025. Parte significativa desses ataques teve como alvo a infraestrutura responsável por transportar eletricidade do oeste, onde se concentra a maior geração do país, para o leste, próximo à linha de frente do conflito.
Especialistas alertam que, se os sistemas de transmissão forem completamente comprometidos, a Ucrânia poderá ter sua rede elétrica dividida em duas, o que tornaria a recuperação ainda mais complexa. A pressão sobre a defesa aérea também aumentou, já que a proteção de instalações energéticas concorre com a defesa de áreas urbanas e estratégicas.
Diante do agravamento da crise energética, o governo ucraniano voltou a defender um cessar-fogo específico para o setor de energia. A proposta prevê a interrupção dos ataques russos às instalações elétricas da Ucrânia em troca da suspensão de ofensivas ucranianas contra a infraestrutura russa de petróleo e gás. Moscou, no entanto, rejeitou a ideia, afirmando que busca um acordo de paz amplo, e não uma trégua parcial.
Enquanto as negociações diplomáticas avançam lentamente, técnicos da operadora nacional de energia trabalham sob pressão para reparar danos sucessivos. A escassez de equipamentos como transformadores e compressores de gás dificulta a recuperação rápida da rede, especialmente quando os mesmos alvos são atingidos repetidamente.
Apesar do cenário adverso, a rede elétrica ucraniana continua operando, ainda que de forma instável. Autoridades lembram que, em apagões totais anteriores, grandes reparos foram concluídos em poucos dias, desde que haja suprimentos disponíveis e interrupção dos ataques nas áreas danificadas.
Para a população, os apagões já fazem parte da rotina. Muitos ucranianos afirmam ter se adaptado à falta de eletricidade, priorizando o acesso à internet e à comunicação como forma de manter o trabalho, a educação e o contato com familiares. Outros relatam exaustão física e psicológica após meses de restrições, perdas de alimentos e dificuldades de locomoção em prédios sem elevadores.


