Panfletos em Teerã prometem até US$ 20 mil: a Rússia está recrutando iranianos para a guerra?
Panfletos oferecendo contratos lucrativos para estrangeiros lutarem ao lado da Rússia na guerra da Ucrânia levantaram suspeitas sobre um possível recrutamento de iranianos. Os materiais começaram a circular em Teerã e prometem salários mensais de cerca de US$ 2 mil (R$ 10,9 mil), além de bônus de contratação que podem chegar a US$ 20 mil (R$ 109,5 mil), direcionados a homens entre 18 e 45 anos. As informações são da Radio Free Europe.
A Embaixada da Rússia no Irã negou qualquer envolvimento com os anúncios e afirmou, em comunicado divulgado no dia 9 de dezembro, que os panfletos são “falsificados e de natureza criminosa”. Segundo a representação diplomática, nenhuma estrutura oficial do Estado russo tem ligação com o material divulgado.
Juramento de recrutas russos (Foto: WikiCommons)
Apesar da negativa, investigações da reportagem indicam que contatos fornecidos nos anúncios funcionam ativamente. Ao entrar em contato com um número de WhatsApp divulgado nos panfletos, a reportagem recebeu resposta de um indivíduo não identificado que alegou que a iniciativa fazia parte de uma campanha “oficial” de recrutamento da Rússia e que estaria coordenada com autoridades iranianas, afirmação para a qual não apresentou provas.
Os anúncios descrevem oportunidades em diferentes funções militares, como soldados, operadores de drones e motoristas. Também mencionam benefícios como passagens aéreas para a Rússia, moradia gratuita, assistência médica e comissões não especificadas. Embora o foco seja em homens, os panfletos também citam vagas para mulheres com formação na área da saúde.
Os contatos divulgados incluem um endereço de e-mail, um número de WhatsApp com prefixo estrangeiro e um canal no Telegram chamado “Junte-se ao Exército Russo para Estrangeiros”. Criado em novembro, o canal publica mensagens em russo, inglês, persa e árabe e já reúne milhares de seguidores. Algumas postagens fazem referência direta a recrutas iranianos, o que intensificou as suspeitas sobre a veracidade da campanha.
Especialistas afirmam que, mesmo sem confirmação da autenticidade dos panfletos, a prática de recrutar estrangeiros não é nova. Segundo analistas em segurança internacional, a Rússia tem histórico de aliciamento de combatentes de países mais pobres, oferecendo promessas financeiras e pouco treinamento antes do envio para zonas de combate.
Legião estrangeira
Dados divulgados por autoridades ucranianas indicam que Moscou já recrutou ao menos 18 mil combatentes estrangeiros de mais de 120 países desde o início da invasão em larga escala, em fevereiro de 2022. Há também relatos da presença de militares norte-coreanos no conflito, como parte de acordos de cooperação entre Rússia e Coreia do Norte.
O contexto econômico e social do Irã, marcado por sanções internacionais, desemprego elevado e aumento da pobreza, torna o país um ambiente considerado propício para tentativas de recrutamento. Além disso, a República Islâmica abriga milhões de refugiados afegãos, grupo que, segundo relatos anteriores, já foi alvo de aliciamento por redes ligadas à Rússia.
Até o momento, autoridades iranianas não se manifestaram oficialmente sobre o surgimento dos panfletos.


