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Paulista cita alucinação ao nadar 76km em volta da Ilha Grande: “Achei que estava enlouquecendo”

Paulista cita alucinação ao nadar 76km em volta da Ilha Grande: “Achei que estava enlouquecendo”

Eric Nakumo completa travessia de Ilha grande e nada 76km em mar aberto
Foram 76km percorridos em mais de 33 horas seguidas nadando, mas Eric Nakumo completou a travessia marítima de Ilha Grande no último dia 9 de dezembro. Aos 41 anos, o nadador amador encarou o desafio extremo de se tornar apenas o segundo da história a contornar a ilha do litoral carioca a nado. Apoiado pela família e por uma equipe de treinadores, Eric teve que lidar com as adversidades do cansaço, alucinações, dificuldades para se alimentar e a vontade de desistir. O paulista contou em entrevista exclusiva ao ge como foi a missão de completar o desafio.
Quem vê até pensa que Eric é um atleta profissional, mas o advogado encontrou na natação em águas abertas uma forma de recuperar sua saúde mental após a pandemia de Covid-19. Em 2021, Eric começou a nadar e, já em 2023, completou o desafio de cruzar os 42km do Canal da Mancha. A travessia do “Everest das águas abertas” despertou a curiosidade de buscar travessias maiores.
– Desde a pandemia, eu comecei a focar em natação em águas abertas, muito pra recuperar, acho que a sanidade mental, né? Pra conseguir uma meditação. E a ideia de fazer a travessia, na verdade, veio porque em 2023 eu cruzei o canal da Mancha, que é considerado o Everest das águas abertas. E lá eu cheguei à exaustão física, e eu ficava pensando quais desafios existiriam que proporcionassem um desafio extremo, né? E a volta na Ilha Grande era isso – contou Eric ao ge.
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Eric Nakumo nadou 76km em 33 horas
Daniel Righetti
Outro grande motivador de Eric foram seus filhos Jun e Mei, de nove e seis anos respectivamente. O nadador quis mostrar aos pequenos que era possível superar grandes desafios como esse.
– Pelo fato de eu ter duas crianças, sempre quis demonstrar que o esporte e os desafios acabam sendo um micro mundo da nossa vida, né? Então assim, no esporte a gente aprende a ter regularidade, a ter disciplina e com os desafios vem problemas que a gente tem que solucionar, assim como na vida. Então isso é uma grande motivação para mim.
Jun e Mei acompanharam o pai diretamente do barco de apoio
Jun e Mei também tiveram um papel fundamental quando a exaustão bateu na reta final. A esposa de Eric, Carol, levou as crianças ao barco de apoio de Eric quando ele estava próximo à chegada. A presença dos filhos trouxe uma energia extra ao nadador.
– Isso me deu uma energia incrível, foi momentânea, mas me deu uma energia incrível. E quando acabou, o desânimo veio de novo, eu sabia que não queria desistir na frente deles. (…) Como eles estavam no barco, na parte final, eu queria mostrar a importância de não desistir – explicou Eric.
Família de Eric estava no barco para a reta final
Daniel Righetti
O processo foi difícil. Foram 33 horas seguidas no mar e o lado mental foi o mais determinante para o processo. Eric já havia tentado fazer a travessia da Ilha Grande em abril deste ano, mas, por conta de uma lesão muscular intercostela, teve que abandonar com 21 horas de percurso. O paulista sabia que tinha que desafiar não só os limites do corpo, mas também os da mente.
– Eu também via imagens. Eu achava que eu estava alucinando porque via imagens perfeitas de pessoas nadando ao meu lado, gente pescando no barco, peixes no mar. Eu comecei a pensar que estava enlouquecendo. A exaustão mental foi o ponto crucial, por isso que eu digo que ele acaba sendo mais mental do que físico, apesar de a gente ficar tanto tempo fazendo exercício – explicou Eric.
O processo não foi fácil, Eric considerou desistir da prova, mas contou com o apoio da sua equipe para se manter na água. Um dos treinadores de Eric é Igor Souza, bicampeão mundial e integrante do Hall da Fama da maratona aquática.
– Passava bastante na minha cabeça (desistir) e isso era um dos motivos de discussão que eu tinha com os meus treinadores e minha equipe que estavam no barco. Por quê? Porque eu realmente via que eu estava evoluindo menos do que na tentativa passada (em abril). Então foi muito maçante mentalmente. Eu não queria ser a voz que ia falar, a voz que diria “eu desisto”, então eu ficava dando argumentos para os meus treinadores para tentar convencer eles de que aquilo era um dia ruim e que não ia dar para terminar. Só que eles não me davam ouvidos – contou Eric.
Eric ficou na água por 33 horas consecutivas
Daniel Righetti
Eric se preparou durante um ano e meio para essa travessia. Em média, eram duas a três horas de treino todos os dias, além de preparação física de musculação em cinco dias da semana. Na semana anterior à prova, Eric teve que passar por treinos de exaustão extrema, além de ter acompanhamento de um nutricionista para manter seu peso ideal para completar o desafio.
– Durante esses treinamentos, eu tenho dois treinadores que me prepararam, e a gente acaba fazendo treinos que são menos ortodoxos. Então eu fiz um treino nessa semana, intitulada como semana hell, em que eu cheguei à exaustão física e mental, tive que treinar nadar 100 quilômetros na semana. Eu já cheguei a fazer também um treino de 12 horas numa represa treinando no período noturno. Para também ter essa experiência mental e também para testar o físico.
Durante a prova, um dos desafios de Eric era conseguir se alimentar. O paulista explicou ao ge que ele não podia tocar no barco, já que se fizesse isso, seria considerada uma travessia com auxílio. Para comer, a equipe de Eric jogava ao mar para o atleta uma garrafa para bebida e um copinho com comidas. Eric se alimentava e se hidratava de 30 em 30 minutos, para conseguir manter a força no corpo.
Eric se alimentava dentro d’água durante a travessia de Ilha Grande
– A gente acaba tendo a necessidade dos alimentos suprirem também as necessidades psicológicas. Então, a gente leva uma gama de alimentos sólidos muitas vezes não preocupado com o valor nutricional do alimento, mas preocupado com o psicológico de quem está nadando. Então, eu como tenho uma certa afinidade à cultura japonesa, eu levei bolinhos de arroz, que é a minha comfort food, uns docinhos também, pão eventualmente, até Coca-Cola eu tomei – revelou Eric.
Além do desgaste emocional, Eric também teve que lidar com o desconforto físico. O paulista encontrou com águas vivas durante a travessia e acabou se queimando com os tentáculos dos animais.
– Algumas são muito pequenas e dão umas queimaduras pequenas no corpo. Mas uma maior pegou na minha mão e aí os tentáculos ficaram presos. E aí parecem micro agulhas que acabam queimando. Isso aí inclusive deixou minha mão inchada por um bom tempo – explicou Eric.
Eric Nakumono com o troféu que marca os 76km completados
Daniel Righetti
Mas, para Eric, nada supera a emoção de ter conseguido o desafio e estar junto com a família nesse momento tão importante.
– Então quando eu terminei, principalmente pelo fato de ir na parte final estarem os meus filhos, foi uma sobrecarga de emoção, realmente eu fiquei muito emocionado. O meu medo era eles terem que presenciar eu eventualmente desistindo, que não seria um problema. Mas, devido às circunstâncias, eu achava que era mais provável eles terem que presenciar alguém me retirando da água, porque eu já estava exausto. Então, quando isso tudo terminou, até as questões de cansaço, de exaustão mental, elas parecem sumir por um momento. E eu fiquei muito feliz – lembrou Eric. geRead More