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Governo de Israel abandona a neutralidade e fala em ‘crimes de guerra’ da Rússia na Ucrânia

Membros da cúpula do governo de Israel deixaram o tom isento de lado e passaram a culpar a Rússia pelos abusos cometidos na guerra na Ucrânia. Se o primeiro-ministro Naftali Bennett ainda mantém o tom comedido, sem citar Moscou ao condenar o que chamou de “visões terríveis em Bucha”, importantes membros de seu governo passaram a usar a expressão “crimes de guerra” e a acusar explicitamente as tropas russas

Yair Lapid, ministro das Relações Exteriores, foi um que deixou a diplomacia de lado após o massacre da cidade de Bucha, cujas imagens foram reveladas no último sábado (2). “As imagens e os testemunhos da Ucrânia são horríveis. As forças russas cometeram crimes de guerra contra uma população civil indefesa. Condeno veementemente esses crimes de guerra”, diz um comunicado oficial citado pela agência Reuters.

As palavras de Lapid indicam uma mudança de foco de seu Ministério e, possivelmente, do governo de Israel como um todo. Ate então, o país tentava não se posicionar a favor ou contra qualquer um dos dois lados, vez que é um dos poucos a manter boa relação tanto com a Ucrânia quanto com a Rússia.

O próprio Ministério das Relações Exteriores, liderado por Lapid, chegou a adotar o tom isento mesmo após a revelação das imagens em Bucha. No domingo (3), o embaixador de Israel na Ucrânia, Michael Brodsky, comentou o massacre no Twitter. “Profundamente chocado com as fotos de Bucha. O assassinato de civis é um crime de guerra e não pode ser justificado”, disse o diplomata.

Deeply shocked be the photos from #Bucha. Killing of civilians is a war crime and cannot be justified. #UkraineRussiaWar #Ukraine

— Michael Brodsky (@michael_brodsk) April 3, 2022

Então, um porta-voz do Ministério tentou amenizar as palavras, segundo o jornal local Haaretz. Questionado se aquilo era uma acusação contra a Rússia, o funcionário desconversou. “Não. É um tweet do embaixador sobre as fotos. Ele não culpou a Rússia”.

De fato, Brodsky não cita diretamente Moscou em seus posts sobre o assunto. Entretanto, mais tarde, o diplomata reproduziu um post citando a acusação de Lapid, um claro sinal de que a neutralidade foi deixada de lado pela diplomacia israelense.

Diferente de seu corpo diplomático, o premiê ainda tenta manter a posição de neutralidade e não fez referência explícita a Moscou. “Estamos chocados com as terríveis visões em Bucha. Cenas terríveis… E as condenamos”, disse Bennett em entrevista coletiva. “O sofrimento dos cidadãos ucranianos é imenso e estamos fazendo tudo o que podemos para ajudar”.

Naftali Bennett, premiê de Israel, e Vladimir Putin, presidente da Rússia, em outubro de 2021 (Foto: Creative Commons)

Se o líder do governo insiste no comedimento, este já foi deixado para trás faz tempo pelo ministro da Saúde Nitzan Horowitz, que apontou o dedo diretamente a Moscou. “É muito difícil ver as fotos do massacre em Bucha. Mas não se deve desviar o olhar, nem desviar a atenção dos crimes de guerra cometidos pela Rússia. Um crime contra a humanidade, contra a liberdade, os direitos humanos e todo o mundo democrático”, disse ele no Twitter.

קשה מאוד לראות את התמונות מהטבח בבוצ’ה. אבל אסור להסיט את המבט, ולא את תשומת הלב מפשעי המלחמה שמבצעת רוסיה. פשע נגד האנושות, נגד החופש וזכויות האדם, ונגד העולם הדמוקרטי כולו. אני בא היום לבית החולים שדה שהקמנו בתוך אוקראינה כדי להבהיר: אוקראינה את לא לבד. pic.twitter.com/N7c7ZBxAAV

— Nitzan Horowitz نيتسان هوروفيتس ניצן הורוביץ (@NitzanHorowitz) April 4, 2022

Horowitz fez os comentários na última segunda-feira (4), diretamente da Ucrânia, onde visitou um hospital de campanha estabelecido por Israel. Além de condenar as atrocidades em Bucha, atribuídas por ele aos russos, o ministro destacou o apoio de seu país aos ucranianos. “Continuaremos alcançando o povo ucraniano. Este é nosso dever moral diante da brutal invasão russa, diante dos massacres e crimes de guerra que ocorrem nesta terra”.

Já Benny Gantz, ministro da Defesa, comentou o massacre igualmente sem falar na Rússia. “Condeno assassinatos desse tipo. É realmente um crime de guerra. Também em tempos de guerra, precisamos ter certeza de que aderimos aos valores chamados de ‘moralidade na luta’. Infelizmente, os civis podem ser feridos em combate, mas não podem ser assassinados durante os combates. Isso é algo que pareceu muito sério”, disse ele, segundo o site AL Monitor.

Quem ainda destoa dos colegas de governo é o ministro das Finanças Avigdor Liberman, que tentou mostrar isenção e foi duramente repreendido. “A Rússia está culpando a Ucrânia, e a Ucrânia está culpando a Rússia. Condenamos. Mas, realmente, o que precisamos entender é que há uma guerra sangrenta. Devemos, por um lado, manter a posição moral de Israel; por outro, preservar os interesses do Estado de Israel”, disse.

As palavras de Liberman foram devidamente rebatidas pelo embaixador ucraniano em Israel, Yevgen Korniychuk, que emitiu um comunicado. “Convido o Sr. Liberman a vir à Ucrânia. Vamos levá-lo com um comboio para Bucha e para outros lugares onde ele pode ver pessoalmente os corpos de civis e conhecer as mulheres que foram amarradas e estupradas. Talvez então ele saiba o que aconteceu”.

O Massacre de Bucha

Os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas da cidade ucraniana de Bucha quando as tropas locais reconquistaram a área, três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.

“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.

Após a divulgação das cenas chocantes, o presidente norte-americano Joe Biden pediu mais uma vez que Vladimir Putin seja julgado por crimes de guerra. “Vocês devem lembrar que fui criticado por chamar Putin de criminoso de guerra”, disse o líder norte-americano. “Bem, a verdade é que você viu o que aconteceu em Bucha. Isso garante: ele é um criminoso de guerra. Mas temos que reunir as provas”.

Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.

Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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