Turquia transfere para a Arábia Saudita julgamento Jamal Khashoggi; relembre o caso
Decisão pode encerrar o caso que busca assassinos do jornalista saudita, que era um dos maiores críticos do regime de seu país e foi esquartejado ao entrar no consulado da Arábia Saudita em Ancara. Estados Unidos apontam que príncipe saudita ‘validou’ que funcionários matassem o jornalista. Jamal Khashoggi, jornalista crítico ao governo da Arábia Saudita, foi morto durante visita ao consulado do país em Istambul
Mohammed al-Shaikh/AFP
Em decisão que pode encerrar um dos casos mais suspeitos contra o regime saudita, a Justiça da Turquia resolveu nesta quinta-feira (7) arquivar e transferir para a Arábia Saudita o julgamento de suspeitos pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, em 2018.
Khashoggi foi morto esquartejado dentro do consulado da Arábia Saudita em Ancara, na Turquia. Ele havia ido buscar uma certidão para poder se casar com sua noiva turca. Embora câmeras tenham registrado a entrada do jornalista, que foi correspondente do jornal norte-americano “Washington Post”, ele nunca saiu do consulado. Depois, investigações descobriram que Khashoggi, um crítico ferrenho do governo saudita, foi esquartejado e estrangulado até a morte lá dentro.
Imagem da rede “CCTV” mostra homem levando malas onde estariam o corpo do jornalista saudita Jamal Kashoggi
A Haber/Reuters TV via REUTERS
Como o caso aconteceu na capital turca, a Justiça do país vinha investigando o assassinato, que tinha 26 suspeitos. Na semana passada, no entanto, a Procuradoria turca pediu à Justiça que transferisse o julgamento para autoridades sauditas, em um movimento visto como uma tentativa de Ancara de estreitar laços com o regime do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman.
A Justiça disse que levaria o pedido ao governo, o que foi por grupos de direitos humanos turcos.
Um dos relatórios elaborados pelos serviços de inteligência americanos acusa o príncipe herdeiro de ter “validado” o bárbaro assassinato. Depois de negar qualquer envolvimento no crime, Riade admitiu que agentes sauditas, que teriam agido sozinhos, eram responsáveis pela morte do jornalista. No final de um opaco processo na Arábia Saudita, cinco pessoas foram condenadas à morte e três a penas de prisão.
Governo americano responsabiliza príncipe saudita pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, em 2018
Jornalista era da elite saudita, mas crítico ferrenho do regime
Khashoggi sempre foi próximo da elite e dos príncipes sauditas, mas era um jornalista crítico do regime. Ele vem de uma família conhecida no país. Seu avô era o médico do rei Abdulaziz Al Saud, que fundou o reino.
Nos anos 90, ele trabalhou como correspondente internacional cobrindo países como o Afeganistão, Argélia, Sudão e países do Oriente Médio. Em 2017 ele decidiu mudar para os Estados Unidos, temendo por sua segurança, depois que o príncipe Mohammed bin Salman começou a combater dissidentes sauditas. Ele tinha cidadania americana e colaborava para o jornal “The Washington Post”.
Nos últimos anos trabalhava como comentarista político e aparecia em canais árabes e internacionais.
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